segunda-feira, 20 de outubro de 2014

UMA DECISÃO RADICAL


        O Octávio era um pastor muito cioso do seu rebanho e um obcecado pela ordem e padronização. Tudo na sua vida era regido por regras e padrões que ele cumpria religiosamente. Levantava-se sempre todos os dias à mesma hora, fosse dia da semana, fosse sábado ou domingo, fosse de verão ou de inverno e depois de tomar o pequeno-almoço dirigia-se ao curral para retirar as suas cabras e ovelhas e levá-las a pastar. Fazia-o sempre no verão, às cinco da manhã, pois a essa hora o sol ainda não tinha nascido e ele considerava ser a melhor hora para fazê-lo, evitando assim o muito calor que teria de suportar. Quando eram seis da tarde recolhia o seu rebanho ao curral indo depois para casa tratar do jantar que a sua Maria lhe tinha preparado com muito esmero. Conversavam um pouco em cavaqueiras de circunstância e ouviam um pouco de rádio, já que não tinham televisão para se entreter, nem filhos com que se preocupar e deitavam-se cedo por volta das oito horas da noite, já que, no dia seguinte, teria de se levantar novamente cedo, para tratar do seu rebanho. Ele fazia apenas de pastor e a sua Maria é que o ajudava nas contas pois, quanto a ter de governar a casa, ela era melhor que ele e era ela que tratava de comprar ou vender e gerir o seu pequeno património. Era esta a rotina diária do Octávio e no inverno as horas variavam um pouco, já que os dias eram mais pequenos e o tempo mais rigoroso, mas o hábito pouco ou nada se alterava.
        Naquele dia, porém, estava ele numa morrinha a atirar pedras ao longe para que o seu Fiel, o seu muito diligente cão pastor, as fosse buscar, quando lhe apareceu o carteiro, o senhor Carlos, que vinha na sua motorizada à sua procura. Ó senhor Octávio como está? A sua Maria bem disse que eu o encontrava por aqui! Ah, senhor Carlos, a que devo a sua visita? Alguma novidade me traz por aí? Será alguma carta das finanças para pagar alguma contribuição de que me tenha esquecido? Não, não é nada disso. É apenas um telegrama que lhe vem dirigido. Como o senhor não tem, nem telefone, nem telemóvel, esta é a única forma de o contactar. Ó senhor Carlos não se importa de me ler o que diz esse de telegrama se faz favor? Pois bem, parece-me que não são boas notícias já que, diz aqui que faleceu o seu tio Luís Prazeres e pedem-lhe para se dirigir à Santa Casa da Misericórdia, para tratar de um assunto do seu interesse. Estou mesmo a ver o que essa gente quer. É que lhe trate do funeral. Pobre do tio Luís que lá se finou.
Este conto continua na próxima semana.

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