quarta-feira, 25 de março de 2015

MIRAL - UM ROMANCE SEMPRE ATUAL

Agora que o senhor Benjamin Netanyahu saiu vencedor das últimas eleições no Estado de Israel seria interessante ler o romance da palestiniana Rula Jebreal, nascida em Haifa no ano de 1973, que com cidadania e passaporte israelita, viajou para Itália em 1993, onde começou a escrever na imprensa diária sobre a política do Médio Oriente.
O romance de Rula Jebreal gravita em torno da vida de uma jovem estudante palestiniana que frequenta o colégio de “Dar El-Tifel”, situado na parte leste da cidade de Jerusalém, propriedade de Hind Husseini, uma palestiniana aristocrata que se ocupa por dar educação aos órfãos palestinianos vítimas da ocupação da sua nação, antes da guerra dos seis dias, pelas forças do reino da Jordânia e posteriormente pelos israelitas.
No seu romance a autora conta a história das duas palestinianas a viverem nos territórios ocupados de Jerusalém oriental. Uma é Miral, a jovem aluna, que luta na intifada com risco da própria vida, mas que acaba por obter o seu diploma com mérito, conseguindo uma bolsa de estudos para poder frequentar uma universidade fora de Israel. A outra é a diretora da escola, Hind Husseini, que pouco antes da fundação do Estado de Israel, em 1948, encontrou um grupo de cerca de cinquenta crianças abandonadas e sentiu como que um “Apelo Divino” para tratar delas. Responsabilizando-se por essas e outras crianças, funda um orfanato para crianças palestinianas, criando assim os alicerces do futuro colégio “Dar El-Tifel”.
Miral, uma das protagonistas desta obra, foi uma das muitas crianças que ao longo dos anos receberam a proteção e o afeto de Hind e da sua instituição. Aos dezassete anos, confrontada com a realidade angustiante do seu povo, entrega-se à causa política e tem de escolher entre pegar em armas para lutar pelo futuro da Palestina ou, como Hind, dedicar-se à educação como único caminho possível para a paz.
O romance de Rula Jebreal foi transposto para o cinema com o mesmo título, mas antes de ver o filme recomendo que seja lido o livro, pois uma adaptação cinematográfica nunca nos pode transmitir as emoções da leitura de um romance.
Para finalizar convém recordar que o senhor Benjamin Netanyahu prometeu que, se saísse vencedor das últimas eleições, se oporia terminantemente à criação do Estado da Palestina e faria tudo para que apenas o Estado de Israel predominasse na região, com a criação de novos colonatos judaicos, dando assim seguimento a uma política de ocupação ilícita dos territórios ocupados, deitando a perder todo o conjunto de negociações de paz levada a cabo até à data e que tantas vidas custaram a ambas as partes.
Esta foi uma das minhas últimas leituras, já no primeiro trimestre do ano de 2015, um pouco antes das últimas eleições em Israel e, curiosamente, quando se estava ainda em plena campanha eleitoral no Estado de Israel, porque a minha opinião já se encontrava melhor formada, pela leitura deste romance, consegui compreender melhor o que se passa nesse país e nessa região conturbada do nosso mundo global e comecei a observar de forma diferente aquilo que por lá acontece. Para quem gosta do género que não perca a oportunidade de o ler.