terça-feira, 23 de junho de 2015
Quando o pequeno
Philip Roth ainda só tem nove anos, é interessante de imaginar como seria para
ele hoje o mundo se nos Estados Unidos da América, nas eleições presidenciais
de 1940, um candidato ultra direitista tivesse ganho a presidência e ao não
entrar na segunda guerra mundial, tornando-se, sub-repticiamente, aliado da
Alemanha Nazi o que teria assim permitido a vitória de Adolfo Hitler. Se assim
tivesse sido, hoje a Alemanha dominaria o mundo com a sua política ultra
direitista, fascista, nazi e xenófoba, retrocedendo o mundo civilizado aos
tempos da escravatura, sendo que os vencedores depois de terem exterminado
plenamente os judeus e os ciganos, considerados pelos nazis como escória da
sociedade, tornado escravos os africanos e espezinhado todos os outros povos
que não comungassem da filosofia eugénica de raça superior. Felizmente isso não
aconteceu, pois os aliados democráticos do mundo ocidental venceram a guerra e
hoje temos, apesar ainda da existência de muitas ditaduras, um mundo muito mais
livre e democrático, apesar de não ser perfeito pois, como disse Winston
Churchill, o regime democrático de todas as formas de governação é o menos mau.
O romance é muito interessante pois explora o mundo imaginário do pequeno
Philip Roth, (o romance pareceu-me ser autobiográfico da infância do autor),
durante a sua infância de aluno do primeiro ciclo de uma escola dominantemente
judaica de Nova Iorque, nos primórdios da segunda guerra mundial deslizando a
narrativa pelas repercussões que uma vitória imaginária do candidato da ultra
direita Charles Lindbergh, (o famoso aviador que atravessou o Atlântico sem
escala no seu pequeno avião Spirit Of St. Luis), e que se tornaria aliado de Adolfo
Hitler após vencer as eleições presidenciais ocupando assim o seu lugar na Casa
Branca, aplicando uma politica neutral em relação à guerra, mas sendo aliado de
Hitler, ao mesmo tempo inicia uma sofisticada perseguição da comunidade judaica
de Newark, local onde habitam não só Philip, mas também o seu irmão Sandy, os
seus pais Herman e Elisabeth, a tia Evelyn casada com o Rabi Lionel Bengelsdorf
(por muito estranho que pareça, aliado de Lindbergh na Casa Branca), o seu
primo Alvin, (que foge para o Canadá para se juntar ao corpo expedicionário com
quem irá combater ao lado dos britânicos na europa contra os alemães e que vai
sofrer em França, num combate corpo a corpo contra um soldado alemão a perda de
um membro inferior), para além de outros seus amigos e muitos judeus de Nova
Iorque. Felizmente, no romance, Philip Roth apesar da narrativa pesada ao
longo de todo o texto, apresenta-nos no fim um futuro muito mais risonho, pois,
alterando a data real em para mais um ano, dá-se um golpe de estado em outubro
de 1942 altura em que Franklin Roosevelt é eleito presidente para um terceiro
mandato, depondo Lindbergh, que entretanto desaparece misteriosamente algures
numa última viagem de avião e dois meses depois, em Dezembro de 1942, os
japoneses atacam a frota americana no Pacifico, dando origem, poucos dias mais
tarde, à declaração de guerra ao Japão fazendo assim os EUA entrarem na segunda
guerra mundial ao lado dos britânicos e russos formando as forças aliadas de
combate às forças do Eixo nazi, alemão italiano japonês e seus países satélites.
É pois este um romance a não perder, sempre com imenso interesse para quem
gosta do género, escrito com mestria pelo grande escritor Philip Roth a prender-nos
na narrativa da primeira à última página.
sexta-feira, 5 de junho de 2015
DAR VOZ A MANUEL ANTÓNIO PINA
O pássaro da cabeça
Sou o pássaro que canta
Dentro da tua cabeça,
Que canta na tua garganta,
Que canta onde lhe apeteça.
Sou o pássaro que voa
Dentro do teu coração
E do de qualquer pessoa
(mesmo as que julgas que não).
Sou o pássaro da imaginação
Que voa até na prisão
E canta por tudo e por nada
Mesmo com a boca fechada.
E esta é a canção sem razão
Que não serve para mais nada
Senão para ser cantada
Quando os amigos se vão
E ficas de novo sozinho
Na solidão que começa
Apenas com o passarinho
Dentro da tua cabeça.
A cabeça no ar
As coisas melhores são feitas no ar,
Andar nas nuvens, devanear,
Voar, sonhar, falar no ar,
Fazer castelos no ar
E ir lá para dentro morar,
Ou então estar em qualquer sítio só a estar,
A respiração a respirar,
O coração a pulsar,
O sangue a sangrar,
A imaginação a imaginar,
Os olhos a olhar
(embora
sem ver),
E ficar muito quietinho a ser,
Os tecidos a tecer,
Os cabelos a crescer,
E isto tudo a saber
Que isto tudo está a acontecer!
As coisas melhores são de ar,
Só é preciso abrir os olhos e olhar,
Basta respirar.
A canção dos adultos
Parece que crescemos mas não,
Somos ainda do mesmo tamanho.
As coisas que à nossa volta estão
É que mudam de tamanho.
Parece que crescemos mas não crescemos,
Foram as coisas grandes que há,
O amor que há, a esperança que há,
Que ficaram mais pequenos.
Estão agora tão distantes
Que às vezes já mal as vemos.
Por isso parece que crescemos
E somos maiores que antes.
Mas somos ainda como antes,
Talvez até mais pequenos
Quando o amor e o resto estão tão distantes
Que nem vemos como estão distantes.
Julgamos então que somos grandes
E já nem isso compreendemos!
Neste conjunto das três ações, que decorreram nos dias 13 e 20 de maio e 2 de junho, foi dada voz ao escritor, poeta e jornalista Manuel António Pina. O debate foi animado pelos alunos das turmas do 5º ano da escola, sendo o moderador o professor José António Paiva, estando presentes também a participar, as professoras da disciplina de português das respetivas turmas Drª. Clara, Drª. Filipa e Drª. Martinha.
No decorrer da tertúlia foram declamados pelos alunos três poemas que fazem parte da obra do autor. "A Cabeça no Ar", "A Canção dos Adultos" e "O Pássaro da Cabeça", foi a escolha prévia da equipa e no decorrer da atividade tertuliana todos tiveram oportunidade de expor as suas ideias sobre os poemas selecionados, sendo todo o debate muito animado e participativo. Um grande obrigado a todos os participantes.
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